Entre as esquisitices de Hollywood estão um pato que tem quatro dedos, e anda pelado da cintura para baixo e um homem voador que usa a cueca por cima da calça. E eu me lembro de mais outra. Não sei se vocês viram um filme com Carmen Miranda, cujo título em inglês é "The Gang's All Here". Aqui no Brasil mudaram o título para "Entre a Loura e a Morena" - tudo a ver, não é gente?
É um musical, como o foi a maioria dos filmes em que Carmen Miranda dançou, cantou e representou. Esse foi dirigido por Busby Berkeley e se tornou famoso pela antológica sequência onde Carmen aparece interpretando "The lady in the tuti frutti hat". Para tanto, o diretor criou uma ilha artificial num palco, usando materiais bem simples. A orla dessa ilha ilha foi decorada com bananeiras e não com palmeiras. Milhares de bananeiras, cada qual com um cacho e, em algumas delas, um macaquinho de verdade mesmo, guinchando e tudo. Na sequência final, num cenário pintando, representando uma pirâmide invertida de bananas, surge Carmen Miranda, dando a impressão de carregar na cabeça, aquela pirâmide de bananas. Eu esse filme num cinema de tela grande e a sensação é que aquela pirâmide vai cair da cabeça da atriz e se espalhar pela sala de projeção.
Até ai, tudo bem - trópicos, bananeiras com alguns morangos, evidentemente deslocados, exotismo e Carmen Miranda arrasando como sempre. Acontece que, se você prestar bem atenção nas bananeiras, vai descobrir algo simplesmente impensável e anti-natural. Todas as bananeiras que enfeitam a ilha artificial do filme estão com o cacho de ponta cabeça. Faltou um consultor brasileiro na equipe de produção, ora veja. Todo o brasileiro já viu um cacho de bananas na vida e sabe muito bem que a pontinha que não está grudada no talo do cacho é preta. Além disso, ele sabe que, na natureza, na bananeira, essa pontinha preta está voltada na direção do solo. Porém, no filme dos gringos a tal pontinha preta está voltada para o alto, demonstrando assim um total desconhecimento da vida desta fruta, de importante valor alimentício e que nos traz à memória a figurinha simpática de nossa inesquecível Carmen. (Se eu tivesse grana, eu me dedicaria à exportação de bananas. Usaria como rótulo de meus produtos, uma foto da Carmen, com aqueles turbantes maravilhosos, cheios de badulaques). Eu vi esse filme lá nos States e quando percebi o erro cai na gargalhada. Meus amigos gringos não entenderam nada e na saída, tive que lhes dar uma aula de botânica sobre a morfologia e anatomia da banana. Sorry Hollywood, mas banana não é o seu bussiness.
Para quem não sabe, Carmen Miranda é brasileira. Nasceu em Portugal, mas é brasileira, que me desculpem meus leitores portugueses. E para que vocês não fiquem magoados, nós, brasileiros, damos de presente para vocês o Felipão e todos os jogadores brasileiros de futebol que andam por aí, pela Europa. Podem ficar com eles, pois aqui eles não fazem falta nenhuma. Eles também não entendem de banana.