Sábado, 18 de Agosto de 2007

PARA A LIA

 

 

     Acabei de retirar o pão do forno, já é quase meia-noite e meia. Quem disse que não se pode fazer pão à noite? Isso não me passava pela cabeça , até que um dia me perguntei  como é que as padarias, logo pela manhã estão cheias daquele pãozinho, tão cheiroso? Tá mais ou menos na cara que nossos queridos padeiros devem começar sua labuta quando o sol ainda não mostrou a cara. Pois é, de vez em quando a ficha demora a cair; acho que você está rindo de mim, mas fazer o quê - meu processador é ainda um pouco lento, não foi contemplado com os benefícios da banda larga mental. Prá falar a verdade, eu não sei como nossos amados padeiros fazem - qual o segredo ou mágica que utilizam para aquelas fornadas magníficas, logo assim, pela manhã. Eu, no entanto, descobri há poucas semanas que o forno do meu velho e fiel "Semer"  serve para outras coisas que não sejam assar, fazer banho-maria, guardar comida para o dia seguinte e abrigar cacarecos que não cabem no armário.
     Te conto um segredinho: o forno do meu velho e fiel "Semer" serve para fazer a massa crescer, antes de se transformar em pão propriamente dito. É simples - faz-se a massa do pão, conforme mandam as orientações da receita, sova-se a dita cuja o tempo que é necessário (ui, com cansa). Em seguida, coloca-se a massa já sovada num recipiente, cobre-se com pano limpo, de preferência, e deixe-a descansar por uma hora, mais ou menos. Enquanto a massa descansa, você pode fazer outras coisas - tomar um bom banho, ver o noticiário ou a novela, ficar sentada no vaso sanitário lendo jornal ou revista, ou então, ligar para alguém e falar uma porção de coisas, incluindo um monte de bobagens, que é o que gente faz, na maior parte das vêzes. Isso, minha amiga, se for uma pessoa tida e considerada "normal". Porque, se você for da mesma estirpe que a minha, ou seja, uma pessoa meio confusa e destrambelhada, com macaquinhos, papagaios e piolhos no sótão, você aproveitará o tempo no qual a massa descansa para fazer coisas tais como tirar moco do nariz, passar os dedos de uma das mão nas axilas, ou então, entre o vão dos dedos do pé, para em seguida, levá-los ao nariz. Isso mesmo, ao nariz e ficar ali, quietinho, apreciando, analisando o odor emanado daquelas reentrâncias. E, desse modo, perceber que ontem a sua axila esquerda estava com odor mais forte e pronunciado que hoje, quase lembrando o cheiro de um bode velho. Ou então, que ontem os vãos do seu pé direito não tinham o cheiro de queijo velho e rançoso. Bem, em nome do decoro e dos bons modos, mudemos o tom para que elementos estranhos não baguncem a vernissage.  Isso aqui pretende ser um escrito leve e prazeiroso e não um tratado sobre meus hábitos e maluquices.
     Onde estávamos? No ítem descansando a massa. Pois bem - após uma hora, abra o forno, retire a massa do recipiente e sove a coitadinha mais ou menos uns dez minutos. Faça os pães da forma que melhor aprouver, coloque-os na forma e devolva-os ao forno. E aqui vai o segredinho, pelo menos para mim! Cubra os pães com um pano limpo, de preferência,  e tchan, tchan, tchan... acenda o forno e deixe-o fechado por alguns minutos. Cuidado para que os panos que cobrem os pães não peguem fogo. Isso quase aconteceu comigo, foi um horror, por um segundo pensei que tinha botado fogo no meu pacato e recatado prédio.Passado esse tempo, desligue o fogo e deixe o pão descansar novamente,  o suficiente para que a massa cresça na forma, enchendo-a por completo. Logo a seguir, retire os panos que cobriam as formas, acenda o forno e deixe o pão cozer e assar por uma hora mais ou menos. Fica supimpa, uma delícia e com uma grande vantagem - você pode fazer pão a qualquer hora do dia ou da noite, seja no inverno, seja no verão, independente das condições meterológicas, um verdadeiro "free bread". E isso, usando um linguajar modernoso, abre um leque de possibilidades - você pode, por exemplo, fazer pão para passar o tempo, para mitigar os efeitos da insônia, para se purgar de alguns pecaditos, pra descontar a raiva que você passou na fila do banco, etc.
     Você perguntou das Catitas. Vou até o Taboão, amanhã, para buscá-las e passar o final de semana com as duas. A rotina, aparentemente, será a mesma - no sábado, ir ao Parquinho Grande, que é assim que elas denominam o Ibirapuera. Também que coisa - não  se pode exigir que duas pequeninas, uma com cinco e a outra com seis anos, tenham a língua desembaraçada o suficiente para pronunciar I-bi-ra-pu-e-ra, um verdadeiro trava-língua para qualquer um em idade pré-escolar. Bem, prevejo que ficaremos até as tantas, já que as duas aprenderam a balançar e claro, fazem questão de exibir sua nova habilidade para tudo e para todos. No domingo, iremos ao Parquinho do Doce. Até algumas semanas, o Parquinho do  Doce era conhecido como Parquinho da Roupa. Nada mais justo, visto que numa das primeiras vêzes que lá fomos, comprei para elas um par de luvas, que elas chamavam de "luvem". Isso me divertia muito, tanto assim, que eu perguntava a todo o momento como se chamava aquilo que elas estavam usando. Elas respondiam "luvem", eu fazia de conta que não ouvia, perguntava novamente, elas respondiam e assim ficávamos até que elas se enchiam e punham um ponto final na brincadeira. Pensando bem, eu não sei onde terminava o meu sadismo e começava a minha idiotice. Hoje, porém, tudo isso é passado - as danadinhas aprenderam a pronúncia correta e me deixaram falando sozinho.
     Já a denominação "Parquinho do Doce" se deve ao fato de eu ter comprado uma tortinha de morango para cada uma delas. Assim que avistaram a tortinha, toda vermelha, no balcão da barraca, elas quiseram saber se era de morango. Eu afirmei que sim e fiz o pedido. Quando a Ellen, a mais nova, deu a primeira dentada, ela arregalou os olhos e disse, admiradíssima, para quem quisesse ouvir: "olha, é de morango mesmo!" A dona da barraca deu um sorriso de quarenta e oito dentes, eu fiquei ali, parado, afogado no meio daquela candura, daquela maravilha que é a descoberta do mundo e de suas coisas! Bem, minha querida - essa rotina poderá ser alterada, dependendo das condições do tempo. Infelizmente, para programas ao ar livre, não se pode contar com os serviços de um forno do velho e fiel "Semer". Temos é que contar com os caprichos de São Pedro, que anda meio esquisito e amalucado nos últimos tempos. Se você tiver algum segredinho que permita contornar os desmandos do velhinho, por favor, me conte. Ele me será útil, se não nesse, num próximo final de semana, tenha certeza. Um grande beijo e ... bom final de semana, com ou sem o forno "Semer". Em tempo - o antigo Parquinho da Roupa, atual Parquinho do Doce é o Trianon. Que também não é Trianon - é Parque Siqueira Campos. No entanto, e daí?

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Domingo, 12 de Agosto de 2007

DAS CAUTELAS AO SE APROXIMAR DOS ANIMAIS

  

 

  Uma das marcas importantes de nossa época é a aproximação e respeito maiores com a Natureza. Hoje em dia, já não se fazem grandes projetos sem que se verifique o seu impacto sobre o ambiente. Grandes rodovias, ferrovias, represas são projetadas levando-se em conta as consequências que afetarão flora e fauna circundantes. Alguns desses projetos chegaram a ser vetados ou alterados. As pessoas, por outro lado, mostram-se mais cuidadosas em relação à qualidade daquilo que ingerem, haja a vista a polêmica desencadeada pelos alimentos transgênicos. A preservação da flora e fauna já não se restringe mais a um pequeno grupo de pessoas tidas como excêntricas. Em certos países, derrubar uma árvore ou matar um animal proporciona multas pesadas ou alguns dias de xilindró ao protagonista.


  Contudo, infiltrou-se no público uma noção até certo ponto ingênua e perigosa. Para a grande maioria das pessoas, tudo o que é natural é bom. Em outras palavras, tudo o que provém diretamente da natureza é adequado e inofensivo. Veja o que acontece em relação aos alimentos. É muito comum você perguntar a um garçon, por exemplo , se o estabelecimento vende suco natural de laranja . O natural aqui refere-se ao fato de que a laranja que fornecerá o seu suco, será cortada e em seguida espremida, sendo isso o seu único processamento. Por oposição, o suco de laranja em polpa não é natural, pois supõe-se que o mesmo sofreu um processo mais elaborado de preparo, incluindo a adição de conservantes e outros componentes. No entanto, o que não é levado em consideração é o fato de que, mesmo o suco dito natural não pode ser conceituado como tal, se levarmos em conta os agrotóxicos e fertilizantes que foram adicionados à planta e ao solo. Não é de todo raro, você tomar um refrescante suco de laranja natural e horas depois, ser vítima de galopante diarréia, que não irá levá-lo para o túmulo, mas poderá lhe proporcionar momentos de grande constrangimento.


  Em relação aos animais, as pessoas tornaram-se mais afetivas, mais preocupadas com sua sobrevivência e extinção. Os animais domésticos passaram a ter um destaque como nunca tiveram. Nos dias atuais, qualquer vilarejo que se preze tem que ter, além do shopping, um pet-shop. É muito comum, pela manhã ou à noitinha, encontrar pessoas levando seus "pets" para o habitual passeio. E é muito comum, infelizmente, você, assoberbado pelos problemas cotidianos, pisar num desses montinhos fedidos de cocô de cachorro e, interromper sua jornada para, desesperadamente, procurar uma sarjeta, uma graminha, um espetinho, um gravetinho ou palito de sorvete, a fim de se livrar daquele abominável produto vindo das entranhas do "adorável" pet. Em torno dessa relação, criou-se toda uma indústria de consumo especializado. Não faltam publicações que ensinam a lidar e cuidar de seu bichinho de estimação. Além dos veterinários que estão ganhando fortunas, não faltam pessoas que estão tirando a barriga da miséria, criando e desenvolvendo organizações cujo o objetivo é atender a esse ou àquele aspecto da relação com os pets. Os campos são os mais variados possíveis - moda, cerimônia de acasalamento, aniversário, nascimento, "début" (quando o pet em questão é introduzido a outros da mesma raça, para finalidades meramente sociais e assim ter amiguinhos),  velório e funeral, culinária, lazer e recreação, aconselhamento psicológico (para o pet e, eventualmente, o dono ou dona do pet). Pessoalmente, eu vejo um pouco de exagero em tudo isso. Se parte dessa energia e cuidados fossem dirigidos à crianças carentes, acredito que o resultado seria muito mais positivo.


  Todo esse cuidado, carinho e respeito fizeram com que ficasse em segundo plano, a idéia de que esses animais podem ser nocivos em alguns momentos. Além de mordidas, bicadas e arranhões, por mais perfumados, vacinados, banhados que estejam, os animais domésticos podem transmitir doenças aos humanos como a toxoplasmose, sarna, hidrofobia, além de nos infestarem de pragas como piolhos, pulgas, carrapatos. E existe a possibilidade, nada remota, de que essa "humanização" dos animais se estenda à classe dos animais selvagens, com evidentes transtornos para alguns dos incautos humanos. Por mais inofensivos que sejam, por mais domesticados que estejam é sempre aconselhável não passar a mão num porco-espinho, dar beijinhos na boca de uma cascavel, abraçar um tamanduá, brincar de "pinhé-pinhé" com um tigre ou partilhar seu leito com um gorila. Fazer trancinhas em juba de leão, nem pensar. Cautela e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém.  Bem, esse prólogo todo é para relatar a aventura vivida por uma colega de trabalho e que, até certo ponto, ilustra essa visão ingênua de que tudo o que provém da natureza é bom.


  Essa minha amiga, seu marido e filho foram passar a tarde de um domingo ensolarado, no zoológico, para relaxar um pouco, distrair-se, ver os animais e, também, reforçar os laços familiares. Após vagarem algumas horas por entre as veredas daquele local, finalmente, chegaram ao lugar  onde estava hospedado o hipopótamo. Bem, o hipopótamo todos sabem  o que é -  trata-se daquele bicho de quatro patas, esquisito, feio, que vive boa parte de seu dia dentro da água e que é herbívoro, ou seja, come matinhos, graminhas e coisinhas do tipo e que ninguém sabe dizer para que serve. Na hierarquia da natureza, desconheço quais seriam as consequências, caso um dia os hipopótamos se transformassem em figuras do passado. Aumentaria a extensão de  terra ocupada por  tiriricas e marias-sem-vergonha e, em contrapartida, diminuiria a população de jacarés e aparentados? Não sei - o que sei é que minha amiga e seu respectivo marido e baby chegaram ao local, quando o mencionado herbívoro acabara de receber uma ração complementar de matinhos e ervinhas variadas.


  O local onde o hipopótamo fora alojado, tratava-se de um vasto gramado, rodeado por uma grade não muito alta, com um pequeno lago ao fundo. Quando minha amiga lá chegou, dezenas de pessoas estavam aglomeradas, observando o comportamento do dito cujo, naquele habitat improvisado. Advertidos que foram pelo chefe da família, essa amiga  e seu pimpolho, postaram-se a uma certa distância da cerca, sem que isso prejudicasse a visão do animal e dos acontecimentos que ocorreram. Após saciar sua fome, o tal do hipopótamo mergulhou um pouco para refrescar a couraça, pois o dia estava muito quente. Quando ele saiu do lago, soprava uma brisa agradável. Lenta e pesadamente, o animal foi se aproximando da cerca, onde se aglomeravam os visitantes daquele domingo. O marido dessa minha amiga, tocou em seu braço e fez sinal para que retrocedessem um pouco mais, pois tudo levava a crer que o animal iria defecar. Minha amiga não compreendeu bem o porquê, até que a cena se desenrolou, maculando um pouco a tarde daquele esplendoroso domingo.


  Assim que o hipopótamo chegou bem próximo à cerca, ficou numa posição de modo a exibir o seu imenso e nada glamuroso traseiro para a multidão. Algumas senhoras mais pudicas e recatadas cuidaram de tampar a visão dos menores presentes, que estavam sob seus cuidados. Curiosas, mas envergonhadas, algumas um pouco ruborizadas, contemplavam com o canto dos olhos, aquele espetáculo nada edificante - o traseiro de um hipopótamo, que não sabemos se macho ou fêmea, indecentemente brillhando à luz do sol. E foi quando tudo começou.


  Relata essa amiga minha que a brisa aumentara um pouco de intensidade. O bicho, que estava a poucos metros da cerca, começou a girar seu pequeno rabo, numa velocidade espantosa. Logo a seguir, deixou escapar de suas entranhas um estrondoso e escandaloso flato. Não se sabe ser por hábito ou por circunstância, o fato é que esse abominável evento, foi acompanhado pela emissão dos dejetos de sua última refeição. Como foi dito, a dieta desse tipo de animal é totalmente vegetariana. Além de serem de digestão mais rápida, os vegetais costumam gerar sobras que são mais secas e voláteis, menos pastosas ou cremosas.


  Pois bem - esse tipo de dejetos, a falta de pudor do animal, a velocidade da brisa vespertina que soprava, a força do flato potencializada pelo girar rápido e contínuo do rabinho do bicho tiveram consequências desastrosas - os ingênuos espectadores, mais próximos da cerca, foram aspergidos por assim dizer, por uma camada fina, nada discreta ou perfumada, composta pelas fezes daquele estúpido animal.Essa fina camada, cobriu tudo o que encontrou pela frente - óculos dos frequentadores, suas roupas e sapatos, cabelos, bonés e o que é pior - as partes do corpo atingindas cobriram-se de pequeninos pontinhos esverdeados, dando a impressão de que todos tinham sido vítimas de alguma nova espécie de sarampo ou sarna. Desnecessário dizer que com isso, lá se foi o domingo de todos. Retiraram-se  furibundos, alguns prometendo dar queixa na polícia, outros com ganas de matar o pobre animal, mas todos, vítimas desse sentimento um tanto ingênuo de que tudo o que provém da natureza, tudo o que leva o rótulo de natural é bom e confiável.


  Como conclusão, resta pensar o quê fazer com velhinhos e velhinhas que tem o péssimo hábito de alimentar pombos e gatos. Esses representantes da vestusta idade não tem idéia de que esses seres são responsáveis pela transmissão de sarna, raiva, toxoplasmose e outras pestes? Isso, sem contar o fato de que pombos, via de regra,  costumam nos brindar com pequenos "mimos" aéreos, pondo-nos em situação de grande embaraço!  Mas isso será assunto para um outro post.
 

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publicado por cacá às 05:28
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