Neste junho, comemoramos os cem anos da imigração japonesa. Há cem anos atrás, aportava em Santos, o Kasato Maru, trazendo a primeira leva de imigrantes, vinda do país do Sol Nascente. Depois dele, muitos outros "kasatos" deve ter havido, trazendo em cada um deles,aquelas pessoas misteriosas, de olhos puxados, cabelos negros, lisos, completamente lisos.
Fico pensando nas ínúmeras razões que apontaram nosso país, como um caminho viável para essa gente. Pobreza, superpopulação, desejo de aventuras - as razões podem ser tantas, quantos foram aqueles que naquela por aqui chegaram. Seja como for - sem essas razões, eu não teria conhecido a Elisa, a Aurora, o Kazuo, o Jorge, o Yutaka, a Shiguemi, a Satiko, aYoko, a Rosa, a dona Joana, a Teresa, a Clarice, o Roberto, o Kazuia, a Fumiko, a Leiko, o seu Koga, oseu Nissighima, a Dayse, a Glória, o Sérgio, o Luiz e tantas outras pessoas legais, de olhos puxadinhos, que ao longo desses anos passaram pelo meu caminho.
Sem essas razões, eu não teria aprendido o significado de gorran, bacataré, bendiô, obassan, issan, ofurô, missô. Sem essas razões, eu não saberia que a morte pode ser uma ocasião para dançar, usando roupas coloridas, muito coloridas, ao som de uma música estranha, embalando palavras que mais pareciam de uma outra galáxia. Também não teria conhecido e gostado daqueles docinhos de feijão, que eu e mais um bando de meninos roubávamos dos túmulos, logo após o entêrro de uma daquelas pessoas.
Sem essas razões, não sei como seria minha vida. Porém, tenho a certeza de que seria uma vida menos rica, mais rígida, menos diversificada. Que bom que aquelas pessoas vieram, que bom que aqui permaneceram. Que bom que estamos construíndo nossa casa, nosso país. A todos vocês, pessoas de olhos puxadinhos, cabelos negros e lisos, muito lisos, o nosso mais profundo arigatô.
Nem bem o ano chega na metade e lá se vai mais um famoso. Desta vez, sobrou pro pessoal da agulha e da tesoura. Morreu Yves Saint Laurent - YSL - as famosas três iniciais, nunca vi coisa tão ou mais famosa e elegante, pois o logotipo que compunham era um charme. Fiquei sabendo da existência dele até que vi o filme "La Belle de Jour", onde o guarda-roupa que a Catherine Deneuve usava tinha a assinatura dele. Ah...aqueles tubinhos tão famosos. Isso foi no final da década de 60. Acho que foi em 68,ano encantado, no entanto, não tenho certeza.
Li um pouco da biografia dele, em resenhas bem resumidas, na internet. Era argelino, jovem ainda foi para Paris e de lá conquistou o mundo. Fazia um ano que lutava contra um tumor no cérebro. Revolucionou a moda, deixou a mulher mais livre e solta, acabou com a cinturinha de vespa, etc. Como não sou especialista, só me restou concordar. De moda, só consigo fazer barra nas calças, pregar botão, diferenciar um cinto de uma cinta, saber que homens abotoam a camisa e colocam o cinto de modo diferente que as mulheres fazem com suas cintas e blusas. Será que essas diferenças ainda existem nesse mundo de releituras e reinterpretações? De onde estás, responda-me, Saint Laurent!
Em todo o caso, foi mais um ícone do século vinte que se foi. Talvez, lá do outro lado, esteja a imaginar, em conjunto com outros e outras que o precederam, modelitos para o dia do juízo final, que parece, será a próxima e última aparição do criador e sua corte. Um vestido trapézio para Nossa Senhora, um tubinho preto para Maria Madalena, um bermudão para Jesus, novas cores para a cauda do Espírito Santo e a barba do Pai Eterno. Lúcifer, deve estar se roendo de inveja.
Esse nhém-nhém do senhor ministro do Meio Ambiente de mandar prender boi no pasto, tá lembrando aquela estória do Sarney que mandava buscar o boi no pasto. Quem se lembra? Foi lá pelos tempos de 1986, na época do Plano Cruzado. O preço da carne foi congelado, começou a faltar carne no mercado, as donas de casa começaram a estrilar. O ex-presidente Sarney, inspirado por um algum inimigo, com toda certeza, inventou essa estória, de confiscar a carne "in natura", "in vita". Resultado - o boi ficou no pasto e a vaca foi pro brejo.