Neste inverno, sábado foi um desses raros dias de céu nublado, um pouco de garoa e um pouquinho de frio. Foi também um sábado particularmente estranho. Decidi ir ao cinema e saí a tempo de pegar a sessão das dezenove horas. Na saída do metrô Consolação, deparo com aquele bando de jovens, dispostos lado a lado, em frentes à parede envidraçada da estação. Em pé, todos invariavelmente vestidos de preto ou cinza, penteados moldados por gel, parados, olhos fixos nas pessoas que saiam da plataforma. Pareciam figuras de um museu de cera, ou então, vítimas da maldição de alguma bruxa que odiava jovens, particularmente do reino dos clubbers e dos emos.
Terminando o filme, peguei um ônibus e fui para casa. A garoa ainda persistia, bem mais tímida, mais parecia um sopro. O frio aumentara um pouco, e a quantidade de pessoas caminhando nas calçadas também. A umas duas ou três quadras do Trianon, meu olhar é surpreendido por uma noiva. Sim, uma noiva com um vestido imaculadamente branco, tomara-que-caia, com aquele friozinho, meu Deus. Grinalda em forma de coroa, véu descendo bem abaixo dos ombros. Caminhava rápido, a seu lado uma senhora. Seu cortejo se reduzia a essa senhora, vestida para a festa. Lembrei-me de Cinderela fugindo do baile. Uma noiva sem buquê, uma noiva sem noivo, uma noiva sem padrinhos, uma noiva perdida ali na avenida Paulista. Uma noiva sem carro, a noiva estava a pé.