Como toda metrópole, São Paulo tem suas coisas esquisitas. Há alguns meses, numa tarde de sábado, fui surpreendido, na Avenida Paulista, por uma equipe de filmagem. Deviam estar filmando um comercial para uma das lojas da Rua São Caetano. No meio de toda aquela maquinária, vi uma mocinha de vestido, veu, grinalda e buquê. Ela estava em pé, no canteiro da ilha e toda a equipe se movendo a seu redor. Uma imagem exótica - ao fundo, o sol quse se pondo, os carros passando de um lado e do outro da ilha, faziam o veu da noiva flutuar e ela, coitadinha - parecia meio perdida, ora arrumando o buquê, ora segurando o veu. Faltava-lhe uma dama de companhia.
No dia 24 de dezembro, descia a Brigadeiro, indo para casa de amigos, onde passaria a véspera do Natal. Eram mais ou umas 23 horas e alguns quebrados, o tempo não estava colaborando, caia uma chuva fraca, pegajosa e chata. A Brigadeiro quase deserta. Ao dobrar a esquina, para entrar na Pedroso, vejo um casal de mendigos, sentados no degraus da porta de um bar. Aproveitando a luz do bar ainda aberto, ele segurava um espelho desses pequenos que se acha em qualquer camelô. O espelho apontava para o rosto da mendiga que estava dando retoques no penteado. Notei que faltava o batom para completar a maquiagem.
Hoje, fui assistir "Evocando os Espíritos", na sessão das 19 horas. O tema era bem interessante - casa assombrada por antigos moradores,há muito falecidos. Os créditos diziam que tudo fora baseado em fatos reais. Seja como for, o filme foi bem fraquinho. Vários fatos ficaram sem explicação, os efeitos especiais, que poderiam dar algum tempero, eram rudimentares. Só serviu para a gurizada presente dar os gritos de costume. Na volta, peguei o metrô. Sentei-me num dos bancos, no assento voltado para o corredor. Nisso, vejo um garoto caminhando na direção do banco. Sem siquer pedir licença, sentou-se no mesmo banco em que eu estava, no assento ao lado da janela.Foi então, que percebi que o garoto tinha uma expressão estranha no rosto. Além disso, estava com a mão esquerda fortemente fechada, apertando algumas notas de dinheiro. Viajamos assim, por duas estações. Me levantei do banco assim que o metrô foi entrando na estação Paraíso. Então, o mocinho me entregou um pedaço de papel com alguma coisa escrita. Olhei em sua direção, ele permaneceu mudo. Sai do trem e tomei uma das escadas rolantes. Abri o pedaço de papel e topei com umas palavras escritas, sem qualquer significado. WJRAS TAXP> KKNAW até onde sei, significa WJRAS TAXP> KKNAW. Cheguei a pensar que pudesse ser propaganda artesanal de escola de digitação. Contudo, poderia ser algum figurante do filme, que conseguira escapar da tela, cansado de participar de filme tão sem WJRAS TAXP> KKNAW.
Gente, eu estava esquecendo - hoje é vinte e dois de Abril, dia em que os portuguêses acharam nosso país. Quanto tempo mesmo? Quinhentos e nove anos....se bem que não acharam nada, não descobriram coisa nenhuma. Já sabiam que estávamos aqui, há muito tempo. Nós? Bem, quero dizer, os índios né?
Quinhentos e nove anos depois eu não sei, além da língua, qual foi o legado do povo português para essas terras de Pindorama. Quinhentos e nove anos depois, ainda está sem resposta aquela pergunta: como seria o Brasil caso tivesse sido "achado" por outros "achadores" como por exemplo, inglêses, espanhóis, francêses, holandeses. Em que país do continente latino e americano devemos olhar na busca por uma possível resposta: Bolivia, Chile? Canadá, Estados Unidos? Suriname, Guiana Inglesa? Martinica, Haiti? Cuba, Jamaica?
Como a maioria dos filhos da colonização, nós, brasileiros, nos sentimos órfãos de pai e mãe. "Descobertos" em abril de 1.500, "independentes" em setembro de 1.822 ainda estamos à procura de nossa identidade (*). Não é nada fácil ser colonizado.
(*) devo confessar que pelo menos gramática, venho tentando me aproximar desta identidade brasileira. Nos capítulos "Colocação dos Pronomes Átonos" e "Concordância de Pronomes" a única lei que respeito é a do menor esforço. Para que dizer "sentimo-nos", quando "nos sentimos" é tão mais fácil, tão mais Brasil?
E como cantava aquela marchinha de Carnaval: "
Quem inventou o Brasil
Foi seu Cabral
Foi seu Cabral
Foi no dia 22 de Abril
Dois meses depois do Carnaval
Fui ver "Valsa com Bashir". Pra quem não sabe, o filme trata do massacre de palestinos nos campos de refugiados de Sabra e Shatila, ocorrido em setembro de 1982. Em minha memória, ficou o registro de que tal massacre fora perpetrado pelas tropas de Israel. Mas não foi. O massacre foi levado a cabo pelos homens da Falange Cristã Libanesa. Contudo, a falange conseguiu entrar nos campos de refugiados com a conivência de Israel que tudo viu e ouviu e nada vez para evitar essa carnificina (as vítimas seriam palestinos). Israel não matou, colaborou, não sei o que é pior.Sei que Sabra tornou um bairro de Beirute e Shatila ainda ocupa o status de campo de refugiados. Atualmente tem uma população de mais ou menos 8 mil deles, muitos dos quais sobreviventes daquela carnificina executa pela Falange com as vistas grossas de Ariel Sharon.
Mudando de asssunto, em minha caixa de correio, recebo muitas animações, aliás, só recebo essas animações, dessas com slides, tratando dos mais variados assuntos - desde o cuidado com animais de estimação até a cura do câncer e da Aids, passando por lumbago e espinhela caida. Dia desses, recebi uma falando das supostas pretensões de celebridades. Duas dessas celebridades me chamaram a atenção, não pelo fato de serem celebridades, mas pelo fato de minha memória reter elas por mais de quatro segundos. Uma delas é a Adriane Galisteu e a outra é a Bety Faria.
A Adriane Galisteu, bem...sua vida de celebridade iniciou quando se tornou nacionalmente conhecida como a namoradinha do Ayrton Senna. Após a morte dele, ela lançou um livro. Seus passos foram orientados por uma incubadora de celebridades, cujo nome não me lembro. Bem, a Adriane fez tudo direitinho e deu no que deu - virou celebridade. Foi parar na tevê e nela ainda continua, se bem que não no mesmo canal. Muitos famosos passaram pelas suas mãos, quer como maridos, quer como simples flertes. Um dos últimos é um guapo deputado federal que está tendo dificuldades em justificar a passagem de avião que pagou para ela, valendo-se de recursos públicos. A impressão que ela me causa não é muito boa, não. Ao contrário de muitos, não acho que ela seja talentosa, explico melhor, o talento que ela tem é para se transformar no que se transformou - uma celebridade (ver abaixo). Na tevê ela me parece muito artificial, riso forçado, fingindo algo que não sente. Além disso, seu porte é meio desengonçado, nada lhe fica bem - roupa, penteado, adereços. Agora, o que me chama mais a atenção é sua busca por fama e dinheiro. Meu Deus, parece que ela só vive para isso. Como vai ser quando ficar mais velha?
A Bety Faria é outra que não me agrada. Ela aparece nos palcos e nas telas há mais de trinta anos. Acho ela uma atriz sem tempero, como dizem por aí. Vi poucos filmes com ela - A
Estrela Sobe, Bye Bye Brasil e o Romance da Empregada. Quanto às novelas me lembro de uma com Francisco Cuoco. Não me perguntem o nome, esqueci. Seja como for - o rosto dela é sempre do mesmo jeito, sem passar emoção. Acho que a Bety não leva jeito para a arte de representar. Parece que ela tem uma espécie de paralisia na região abrangida pelo nariz e olhos que não deixa emoção ou sentimento algum transparecer. E a voz - a voz da Bety Faria é horrível. Parece que ela está sempre com a boca seca, cheia de areia. Tente você falar após ter comido uma caqui ou uma manga verde, num dia quente. Você terá a sensação de estar com a boca cheia de pena de galinha e isso vai dar uma aflição terrível. Pois é - essa é a aflicação que sinto quando ouço a voz da Bety Faria.
Bem, por aqui fico. Antes que perguntem, já vou respondendo que a relação entre o massacre de Sabra e Shatila, Adriane Galisteu e Bety Faria é uma só - são três coisas de que não me agradam. E chega....
a próposito das celebridades - sou do tempo em que toda a cueca e calcinha eram brancas e tinham uma só finalidade - evitar o contágio de nossas partes pudendas com elementos nocivos do ambiente. Pois bem - naquela época,uma pessoa se tornava célebre porque tinha feito algo notável, seja na forma seja no conteúdo. Na contabilidade entre o Bem e o Mal, as celebridades assim o eram por terem feito algo positivo para si e seus semelhantes. Descobrir a cura para uma doença, destacar-se num esporte, ou então nas Artes eram formas de se tornar celebridade. Hoje em dia, leio que Paris Hilton é famosa - todo o mundo acredita, no entanto, ninguém sabe dizer porquê. Só se for pelo fato de eambular o tempo todo sem calcinhas. Sinceramente, não vejo mérito nisto - a nossa Pequena Notável (Carmen Miranda) andou à vontade em Hollywood,durante muito tempo. Graças a si mesma, ficou famosa por sua voz, seu talento para o canto e a dança, sua vida de mulher independente e apaixonada pelo Viver e pela Arte. A diferença entre e a Carmen e a Paris é que para a Carmen o sucesso e a fama não precisaram da calcinha.