Sábado, 28 de Abril de 2007

E O LOBO MAU USAVA CAMISETA VERMELHA E BONÉ PRETO

Para as pessoas que me conhecem, não é segredo que eu saio com garotos de programa ou michês, quando o assunto em questão é como satisfazer as necessidades que foram criadas por aquela ordem que Deus deixou para Noé e seus descendentes: "crescei e multiplicai-vos".  Como a camisinha e, principalmente, a pílula acabaram com a relação direta "sexo-filhotes pra criar", creio que a frase deveria ser reformulada para "crescei e satisfazei-vos". Várias são as razões que me levam a usar o sexo avulso. Entretanto, expôr e falar dessas razões nesse momento, tornaria esse post uma coisa longa e maçante. O meu objetivo é contar como é que foi a noite com esse garoto de programa, um garoto especial, pois foi o primeiro que eu cacei, graças às facilidades oferecidas pela internet. O primeiro michê cibernético a gente nunca esquece!

 

    Tudo começou, quando numa noite eu estava numa dessas salas de bate-papo, à procura de alguém pra alguma aventura. Conversar numa sala de bate-papo, onde o tema central é sexo, dá um trabalhão. Além da rapidez pra responder, você tem que ter habilidade suficiente pra conversar com três ou mais pessoas diferentes ao mesmo tempo, sem mandar recados para a pessoa errada. Uma pisada no tomate dessa espécie, põe a perder preciosos minutos de conversação. Já deixei escapar muita presa, por causa desse erro primário. Além disso, pra tornar sua caça mais eficaz é muito conveniente que você tenha um endereço qualquer para conversação instântanea (msn, yahoo messenger, etc)  fotos ou câmera para que caçador e presa se vejam e se avaliem. O texto tá muito cruel, sem tempero? Paciência...mas, é essa a realidade!

 

    Pois bem, naquela noite eu estava com a macaca e adicionei um quaquilhão de pessoas. Não deu certo com ninguém,  eu fique com o escroto abarrotado, desliguei essa maquininha terrível e fui dormir. Antes de fechar esses lindos olhinhos que a natureza me deu, eu fui tentado a prestar uma homenagem noturna a Onan, contudo, resisti bravamente. Dias mais tarde, estava eu no MSN, a falar bobagens e futilidades com alguém, quando "ele" entrou. Se apresentou com um modesto "oi". Ao que eu respondi com outro "oi", pensando ao mesmo tempo em quem poderia ser. Eu deveria dizer o nome dele, porém,  prometi a mim mesmo ser o mais discreto possível. Para facilitar esse relato, digamos que ele se chama Eduardo. É um nome comum, não assusta ninguém, é fácil de pronunciar além do quê é um dos nomes mais bonitos para seres do sexo masculino. O nome real dele tem também essas qualidades. E  pronunciado com o sobrenome, lembra nome de escritor, poeta ou jornalista.

 

    Nossa primeira conversa foi, por assim dizer, uma conversa de informação. Descobrimos de onde nos encontramos, nos identificamos. Fiquei sabendo que ele morava na zona leste, e ele ficou sabendo que eu morava em algum lugar da Vila Mariana. Não me lembro como descobri que ele era garoto de programa, mas isso não tem importância. Indaguei quanto ele cobrava, ele respondeu. Por uma questão de confidencialidade, não digo quanto era. Além do que, não tenho a intenção de provocar uma concorrência selvagem e desleal  no mercado dos garotos de programa. Vi duas ou três fotos dele e gostei do que vi. Ele de mim nada viu, porque naqueles dias eu ainda não tinha uma câmera ou cam, usando a linguagem das salas de bate-papo. Essa primeira conversa parou por aí. A ela, se sucederam várias outras, sem que delas nada resultasse.

 

    Até que um dia, ao iniciar o bate-papo, eu notei no alto da janela de diálogo que ele tinha um site. Enquanto conversávamos, eu dei uma espiada no site. Foi então, que eu descobri que ele registrava num blog as aventuras, os encontros com o vários clientes que tivera até então. Até que escreve bem o danadinho - com fluência, com espontaneidade, com um certo estilo. (Fiquei pensando em fazer coisa semelhante, ou seja, narrar o que aconteceu em cada uma das vezes em que saí com um michê. Acredito que se fizesse isso, as páginas desses relatos cobririam toda a área do Ibirapuera). Se o meu querido Eduardo continuar praticando, escrevendo, irá surpreender muita gente ainda.
 
    Saber que ele tinha um blog e nele imprimia pedaços de seus dias, despertou minha curiosidade. E foi então que propus nos encontrarmos na quinta-feira, na catraca do metrô. Nessa altura, ele já tinha me visto na cam, eu sabia que ele tinha vinte e um anos e definitivamente, era muito simpático. Antes de nos desperdimos, ele fez questão de dizer que não era sarado. Admirei sua sinceridade - nos dias de hoje, ser malhado é um ítem que conta pontos nesse mercado do corpo e do desejo. Para permitir que nos achássemos no verdadeiro formigueiro que é aquela estação do metrô naquele horário,  ele disse que estaria de jeans, tênis, uma camiseta vermelha e boné preto. Eu disse que estaria de jeans e estaria segurando um celular. E na quinta-feira, com um pouco de atraso, lá estava eu, próximo à catraca do metrô, de jeans e portando o celular - como Chapeuzinho, esperando o Lobo Mau! Um Lobo Mau que usava camiseta vermelha e boné preto - e descobri depois, que tinha um jeitinho meio tímido, um olhar carinhoso.

 

   Chegando em casa, ele pediu para tomar um banho. Em seguida, sentamos sobre minha cama, eu coloquei a cabeça dele sobre minhas pernas. Caro leitor ou leitora - você talvez esteja pensando que já éramos velhos conhecidos de cama e banho. Na, nani, nanão....Aquela quinta-feira, como disse linhas acima, era a primeira vez que nos víamos ao vivo e em cores. Há um dado que é preciso esclarecer - com os garotos de programa ou michês, as coisas ligadas ao sexo transcorrem com uma fluidez impressionante. Por exemplo - quando eu disse que coloquei a cabeça dele sobre minhas pernas, isso foi feito com naturalidade, como se fôssemos velhos amantes. É que eles se condicionam no sentido de fazer tudo ou quase tudo para agradar o seu cliente. Afinal, estão sendo pagos para isso. Além do mais, de que outra forma suportar o contato com corpos, odores e sabores que, em outras situações lhes causariam aversão? E  é ai que reside o perigo - se você não tem a linda cabecinha no lugar, você acaba confundindo aquela fluidez, aquela facilidade toda, como um sinal  de que ele sente algo por você, que vai um pouco além da simples transação comercial. Se isso acontecer, não dê moleza - corra para o seu padre, pastor, pai-de-santo. Se apegue com o seu anjo da guarda, orixá ou mentor. Prometa qualquer coisa - até comer uma mulher, se for o caso. Resista, porque se não o fizer você corre o risco de, dependendo do caráter do garoto, ver seu precioso patrimônio, fruto de anos de árduo trabalho, ir por água abaixo, virar pó em questão de dias. Resista, porque ele, no fundo, no fundo, ele sabe que o jogo é esse. Não se esqueça de que nesse jogo, via de regra, a parte fraca é você. Sendo assim, como medida de prevenção de acidentes de percurso, inclua além da camisinha e do lubrificante, a criação de uma espécie de couraça protetora que impeça a sua queda em tentação. Melhor prevenir, que remediar já diziam nossos avós.

 

    Bem,  enquanto eu passava meus dedos entre seus cabelos, conversávamos. Indaguei o porquê de ele estar naquela vida. Ele contou que estava duro, sem conseguir emprego e seguindo orientação de alguns amigos e conhecidos,  entrou numa sala de bate-papo, deixando uma mensagem, oferecendo seus serviços de garoto de programa. As oportunidades não tardaram e dali por diante, a coisa rolou como que por si mesma.  Também perguntei se ele nunca namorou ou casou. Me contou que se apaixonara muitas vezes,  se entregara de corpo e alma. Contudo, seus amores sempre terminaram com muito sofrimento, pois sua entrega e seu afeto eram retribuídas com infidelidade, mentiras e desilusões. À medida que meus dedos percorriam seus cabelos, à medida que suas recordações iam se transformando em palavras, eu fui aos poucos me distanciando. As palavras de Eduardo, dentro de minha mente, foram se transformando em imagens, que se ordenaram para formar uma estória bastante conhecida - nos desencontros dele, eu vi os meus desencontros. Quanto voltei a mim, ele estava dizendo que, cansado de tanta falsidade e mentira decidira bloquear o acesso do amor ao seu coração, já bastante ferido e magoado. Fiquei pensando quantas vêzes aquela alma ainda iniciante teria que ser machucada  para que criasse uma espécie de escudo que lhe protegesse um pouco mais da força de seus próprios sentimentos. O batismo do amor não se faz sem lágrimas, sem queixas e sem dor. Minha mão deixou seus cabelos, passeou em seu rosto e seu peito. Tremia um pouco, acredito que ele não percebeu - melhor assim...

 

    Finalmente, os finalmente aconteceram - quero dizer, o sexo foi suave,  ele me tocava com tanto cuidado, que me deixou um  pouco constrangido. Fiquei com receio de assustá-lo caso resolvesse soltar a franga de uma vez. E me dou o direito de não entrar em  maiores explicações, pois suponho que todos os que estão lendo esse post, são maiores de idade, não fizeram voto de castidade e, sendo assim, conhecem muito bem o tipo de forças que estão em jogo quando duas pessoas, seja lá de que sexo for,  se encontram para esse tipo de lazer. Além do quê, conhecem com exatidão os múltiplos significados dessa expressão, quando usada num contexto específico como esse. Quando tudo acabou, ainda conversamos bastante - ele contou sobre sua família, narrou alguns confrontos com pai e mãe pelo fato de preferir , sob seus lençóis, a companhia de meninos às meninas. E contou sobre seus planos, seus sonhos.  Entre outros, irá embora de para uma outra cidade, pretende se desligar dessa vida de garoto de programa, etc. Sonhos são sonhos, ocorrem a todo instante. Alguns se realizam, outros permanecem ... sonhos, apenas.

 

    De repente, seus olhos quase saltam das órbitas - já passava das onze horas, ele precisava ir embora. Levei-o até o portão do prédio. Fiquei olhando até ele sumir no final da rua. Mais ou menos uma hora depois, liguei pra ele, pra saber se ele já havia chegado em sua casa. Coisas de mãe...
 

 

sinto-me:
publicado por cacá às 06:10
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