Quinta-feira, 14 de Janeiro de 2010

DE POLICIAL E DE LOUCO...

Nos meus tempos de colégio, havia um ditado que dizia "de médico e de louco, todo o mundo tem um pouco". Dias atrás, estive na casa de Naja Maria, com quem fui acompanhado de Vera Coral, minha ilustre colega do Propedêutico. Conversávamos sobre como os costumes mudaram tanto de algum tempo para cá. Por exemplo, em nosso tempo era uma honra e uma baita responsabilidade ser convidado para ser padrinho ou madrinha de batizado ou crisma. Isso porquê se esperava que o padrinho e a madrinha fizessem as vêzes de pai ou mãe, caso um dos genitores do afilhado passasse desta para melhor.  De acordo com as circunstâncias, essa responsabilidade envolvia zelar pelo bem estar do afilhado, cuidando de sua saúde,
acompanhando seus estudos, dando-lhe orientações quanto aos percalços dessa existência. É, moçada - não era mole, não. Hoje em dia, a coisa mudou tanto - com a transformação de cada ato corriqueiro em espetáculo, padrinhos e madrinhas abandonaram os papéis de pai ou mãe substitutos para serem mais um figurante na foto ou no filme. A coisa funciona mais ou menos assim - marca-se a data da filmagem ou evento, como queiram, escolhe-se como padrinho ou madrinha uma tchurma portadora de um visu da hora. No dia e horário, os tais na igreja comparecem, com os seus melhores modelitos e sorrisos e pronto. Terminada a cerimônia, cada um para seu canto,obrigado, passar bem a todos e nunca mais se vêem. Foi quando então, Vera Coral interrompeu o rumo da conversa, pois se lembrou de um conhecido seu, que era talvez um dos últimos exemplares dessa geração de padrinhos e madrinhas. Esse amigo era um senhor de seus sessenta e poucos anos, solteiro.Vivia da modesta aposentadoria que conseguira, como funcionário público. Isso, nos tempos em que ser funcionário público era algo que impunha respeito, não essa bandalheira que é agora. Pois bem - esse senhor tornou-se padrinho afetivo de duas lindas meninas, filhas de uma conhecida sua. O casal se desentendeu, houve a separação. A mãe não ganhava o suficiente para arcar com os custos do aluguel e alimentação de todos. O pai, um cafajeste e irresponsável, pagava a pensão quando bem lhe dava na telha. Esse senhor, então, transformou-se em verdadeiro pai das meninas - contribuia para a alimentação, pagava o aluguel, além dos cuidados com roupas, saúde, educação e lazer de suas pimpolhas. Como as meninas moravam num bairro pobre da periferia, ele levava-as, periodicamente, ao teatro e cinema, a passeios em parques e museus, etc. Como residia no centro, apanhava as garotinhas, que passavam o sábado e o domingo, em sua moradia de onde saiam para os passeios.


Alguns moradores do prédio no qual ele residia, moradores que não tinham muito o que fazer entre o final de uma novela e o início de outra, passaram a notar o óbvio - a gritante diferença de idade entre ele e as meninas. Esse fato fez com que alguns moradores viajassem demais na massa folhada e então, alguns deles, representados por três moçoilos em idade viril interpelaram o amigo de Vera. Numa tarde verão, quando ele estava com as meninas no pátio do condomínio, esses guapos mancebos se aproximaram, e em atitude policialesca, sem muita sutileza manifestaram suas suspeitas, sugerindo que o tal senhor tivesse ligações pedofílicas (existe isso???) com as garotinhas. Tranquilamente, ele explicou sua presença na vida das meninas. Um deles, o mais novo e mais incomodado, teve o acinte de pedir o  telefone da mãe das meninas, para confirmar a veracidade das informações. Santos Óleos - o telefone foi dado, o rapaz ligou para a mãe e confirmou toda a estória. No entanto, para esse tipo de gente, a dúvida só é resolvida quando a suspeita levantada é confirmada. Para gente dessa laia, o suspeito não tem saída - é criminoso, mesmo que prove o contrário. Lembram do filme "A Dúvida"? Vejam meninos - é uma verdadeira aula sobre o painel psicológico desses tais guardiães da moral e dos bons costumes. 

A história oficiosa da ditadura brasileira, em dezembro de 1968, conta que o milico-presidente, achou estranha a hesitação do então vice-presidente, Pedro Aleixo, na hora de assinar o mal afamado AI-5 Inquirido se tinha algum receio sobre a reação de outros países, Pedro Aleixo, que era conservador, mas não era autoritário, respondeu que não. Seus receios não diziam respeito a reações da Europa, Estados Unidos ou coisa que o valha. Seus receios se referiam às interpretações que o homem comum daria a mais aquele ato da ditadura militar. Um governo ao se instalar no poder, faz com que seus simpatizantes também se sintam no poder. E é aí que mora o perigo.


É bem provável que essa recente onda de denúncias sobre pedofiilia, esse constante rebater da mídia a respeito do tema, a falta de informação e discussão mais isenta  do assunto despertaram nos mocinhos seus temores e conflitos sabe-se lá de que natureza e o resultado foi o que se viu - agir baseados tão somente na pura e simples aparência, ou seja, no fato de que o amigo de Vera era idoso e no fato de que as crianças, por serem crianças, eram mais novas que ele. Pois é - de policial e louco todo o mundo tem um pouco.

Eu, hein? a história mostra que essa atitude, que existe de modo difuso na população, quando condensada e manipulada resulta em verdadeiros desastres humanitários. Os exemplos abundam nessas últimas décadas. Se a coisa piorar, fecharei meu escritório de representação de produtos da Coty, Palermont ,Mirurgia e Avon, cato meus gorros, bonés, casacos, cachecóis e vou dar um tempo em Vladisvostock. Lá é muito frio na maior parte do ano. A turma quase não sai de casa e, mesmo em casa, quase não fala. O frio é muito forte, congela a língua dos que falam muito. Um oásis de paz, um paraíso em meio ao gelo. Paz para todos...

 

sinto-me: "teje preso"
publicado por cacá às 02:30
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