Há mais de 90 dias, um de nossos colegas de trabalho está afastado.É um rapaz de uns vinte e poucos anos, meio franzino, universitário do último ano de um curso de Sociologia. A razão para essa ausência compulsória é que nesse tempo todo, esse garoto tem sido vítima de crises emocionais envolvendo sentimentos muito intensos de depressão, pânico, medo de sair às ruas, medo de ser assassinado. Infelizmente, um quadro que já está se tornado comum em nossos dias. Volta e meia ouço falar de alguém, relativamente jovem, acometido por esse quadro sinistro.
Na minha época, ou seja, há mais de 50 anos, a situação era outra. Éramos jovens, tínhamos problemas, tínhamos lá nossas crises existenciais. No entanto, a perspectiva era outra - enxergávamos um futuro, tínhamos uma utopia, o mundo era mais solidário, os laços familiares e de amizade eram mais fortes e seguros, as pessoas menos individualistas. E sobretudo, os valores cultivados implicavam crescimento mental e espiritual. Para nós, jovens daqueles anos, a vida podia não ser totalmente cor-de-rosa, porém, não havia em sua coloração nenhum tom cinza ou negro.
Não sei quantos séculos tem a sociedade cristã ocidental. Não sei quantos séculos tem nosso mundo capitalista. Não sei por quanto tempo existiremos. O que se pode esperar de uma sociedade que cada vez mais condena à morte aquilo que tem de mais precioso, sua infância e juventude? Por todos os países, pertença ele ao G4, G5,G8, G20, G30, a infância tem sido vítima da fome, da doença. Os poucos que sobrevivem, na adolescência poderão escolher entre o banditismo, o tráfico de drogas, a prostituição ou a mendicância. Tantos séculos de progresso, de desenvolvimento tecnológico para acabar nisso? Será que valeu a pena?
Se este mundo, tal como o conhecemos, um dia deixar de existir e se sobrar algum sobrevivente, fica aqui um apelo - por favor, pensem bem para não repetir a mesma desastrosa experiência.