Domingo, 2 de Março de 2008

RECADOS DO LESTE

A súmula do jornal relata que nesse filme a enfermeira Anna é testemunha de um crime, no qual integrantes da máfia russa, residentes em Londres, estão envolvidos. Para mim, é a estória de Tatiana - uma delas, pois deve haver milhares, naquilo que um dia foi a União Soviética. Pois bem - essa minha Tatiana, encantada com as promessas, com a vida de conto de fadas oferecidas pelas terras do Oeste, abandona o seu torrão e vai para cidade encantada de seu conto - Londres. Infelizmente, a realidade da vida não corresponde à realidade dos contos de fadas. Assim, a minha Tatiana acaba seus dias sem príncipe encantado, sem castelo e sem sonhos. Acaba seus dias nos braços da máfia russa, com seus próprios braços coloridos pelo carmim das manchas, provocadas pelas inúmeras vêzes em injetou ou injetaram-lhe coisas como cocaína, heroína - pequenos mimos, indispensáveis para suportar a cruel realidade da cidade encanto. Um dia, ou melhor, uma noite, sentindo-se mal, entra numa farmácia à procura de ajuda. Não chega a ser socorrida, pois desmaia, caindo em meio a uma poça de sangue, indicando um aborto. É levada para um hospital, não resiste e morre. Contudo, deixa uma testemunha, uma prova de toda aquela brutalidade - uma garotinha. É quando entra em cena a enfermeira Anna, que é cidadã inglesa, descendente de russos. Anna fez o que pode para salvar Tatiana. Não conseguindo, parte para salvar a filha, cujo nome ela mesma dera - Cristina. A salvação consistia em encontrar algum parente da mãe, a quem a menina seria entregue. E é nessa missão que a Anna se impõe, que se desenvolve o filme e todo o seu horror.

 

   O diretor desse filme é David Cronenberg, conhecido por sua maneira didática e irritante até, de conduzir cenas de violência. Pois bem - em "Senhores do Crime", a sequência mais brutal, mais violenta se faz sem nenhum pingo de sangue. Se passa numa casa de prostituição, pertencente a um dos chefões mafiosos. O filho do chefão exige que o mocinho (?) transe com uma das garotas, para provar que não é bicha e poder ser admitido no seio da família. E ainda impõe uma condição: ele, o filho, ficará vendo a cena, para ter comprovação da virilidade do mocinho e, acho eu, satisfazer seus baixos instintos. No decorrer do filme fica subentendido que o filho do chefão tinha problemas, daquele tipo que as pessoas distintas evitam falar quando há mulheres e crianças por perto. A cena é de uma brutalidade imensa - um soco no estômago do espectador seria uma carícia, comparado ao que vi. A garota fica de quatro na cama, o mocinho vai por trás. Só que a mocinha enfia o rosto nos lençóis e fica ali, parada, estática, sem vida, sem forma. A câmera mostra ora o rosto do mocinho - uma expressão de tédio, cansaço e ódio; ora o rosto do filho tarado do chefão - uma expressão de total animalidade e sadismo. Só me lembro de dois filmes com sequências tão ou mais brutais: "Tempo de Embebedar Cavalos" e "As Tartarugas Podem Voar" (ou "As Tartarugas não Voam", não sei ao certo). Por coincidência, esses dois filmes envolvem assuntos e pessoas que moram em países ao leste da Europa.

 

   O crítico do mesmo jornal relata que pouco se falou sobre o porquê de o filme ter um clima de melodrama, subvertido por cenas de violência. Eu não sei porquê, não sou crítico de cinema,  meu QI não é suficiente para tanto. Contudo, me chamou a atenção uns certos toques de filme noir, que foram dados à obra - o tipo físico do mocinho, o caráter de sua personagem, frio, determinado, porém capaz de se comover,  o clima de envolvimento entre ele e a enfermeira. Em tempo - a cena em que ele aparece pelado, na sauna, com o corpo todo marcado pelas tatuagens, não passa disso mesmo. Não se iluda, quem pensou que fosse ver algo mais.

 

   Em português o título foi "Senhores do Crime", em inglês "Eastern Promises", cuja tradução deva ser "Promessas Orientais", um título sem graça, se eu estiver correto na transposição. Talvez, pudéssemos partir para uma tradução mais livre, algo como "Sonhos Desfeitos", "Ilusões Perdidas", "Vidas Ultrajadas" - mas isso é muito piegas. Pela amostra, eu seria um péssimo confeccionador de títulos para filmes. Seja como for, e considerando vários outros filmes que já vi, vindos ou tratando de assuntos ligados àquela região, acredito que Recados do Leste poderia ser um título razoável e mais de acordo com o conteúdo. E, falando nisso, o recado que Senhores do Crime deixa é um só - será que algum dia chegaremos a ser, pelo menos um simulacro daquilo que entendemos por Humano?

sinto-me: com um toque de desalento
publicado por cacá às 13:53
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