Hoje, 28 de dezembro, mais um dia de sol meio envergonhado. Esse início de verão está mesmo muito esquisito - pouco calor, pouca chuva, o que confirma a impressão que tenho de que, a partir de janeiro, teremos muito calor e pouca chuva.Não morro de amores por essa água que cai do céu, mesmo sabendo ser necessária. Hei de morar em Lima, ou então, no deserto de Atacama, onde chove uma vez a cada cem anos, pelo menos é o que diz o National Geographic.
Estava lendo trechos de um livro que ganhei, como presente de aniversário. Trata ele, de modo singelo, da vida de uma antiga colega do colegial, Helenira Resende de Souza Nazareth, que anos mais tarde se integraria na luta armada, morrendo barbaramente na Guerrilha do Araguaia. Até hoje, quase quarenta anos depois, seus restos mortais não foram encontrados e reconhecidos. Até hoje, as autoridades civis e militares se recusam a passar a limpo essa página triste de nossa história. Tivemos pouco contato, contudo, até hoje quando me lembro dela e de seu destino, não consigo deixar de admirar a força de seu idealismo, a profundidade de seu desprendimento. E pensar que ela não tinha nem trinta anos quando foi assassinada.
Mudando de assunto, gente - essa tal de crise parece que veio para ficar. Uma coisa que me deixa indignado é que, no final de contas, trata-se de uma crise criada, planejada por um grupo de canalhas do colarinho branco, devidamente resguardados e defendidos pelo irresponsável de plantão, George W. Bush. Planejaram tudo direitinho, na hora "H", quando a coisa estourou, eles saíram de fininho, para usufruir todo o conforto proporcionado por anos de roubalheira descarada. É claro que o G.W. levou a parte dele, afinal, ele não nasceu ontem e, na divisão dos papéis, parece que ele ficou com o pior - o de por a cara para bater. Décadas de neo-liberalismo para acabar nisso - os governos tendo que arranjar grana para socorrer bancos e empresas que entraram nessa, seja por boa fé, seja com terceiras quartas e sabe-se lá quantas intenções. Assim, até eu, né Mané?
Ainda falando dessa crise, me lembro do baita susto que levei, quando em 1981, recém-chegado aos Estados Unidos, eu vi pessoas procurando comida em latas de lixo, nas ruas de Oakland. E quando vi, em São Francisco, trocentas pessoas na fila da sopa do Exército da Salvação - o meu queixo foi parar na Patagonia. E agora, as imagens não são menos surpreendentes - famílias e famílias morando em trailers, porque tiveram que abandonar as casas por não poderem pagar a hipoteca, pessoas largando tudo, vagando pelas estradas, parando aqui e ali, à procura de um trabalho. E tudo isso, no país de economia mais pujante do mundo - imagem, então, o Haití... Falando nisso, gostaria que me explicassem por quais razões o dólar é a moeda eleita para o comércio internacional. Afirmar que os Estados Unidos são a maior e mais estável economia do mundo, não convence muito. Um país que cresceu com uma guerra e precisa de crises e guerras para prosseguir, não é lá essas coisas, creio eu. Para mim, capitalismo é um sistema econômico irracional que exige cada vez mais controles e regulamentos, para que não leve o mundo ao auto-extermínio.
Só para encerrar, vocês viram "Gomorra"? Apesar do nome, não se trata de um filme de sacanagem, sobre sodomia ou coisa do gênero. Nele, são mostradas os vários tentáculos da Camorra, a máfia napolitna. Esses tentáculos,no filme em questão, atingem vários setores da economia, que vão desde a moda até o armazenamento de lixo tóxico. Você vê esse filme, em seguida, vê o filme do Al Gore (Uma Verdade Inconveniente) e, meu Deus - não é possível concluir outra coisa a não ser essa - os negócios do mundo estão nas mãos de bandidos, nós estamos nas mãos de bandidos. É bandido mesmo, crime organizado. E agora José?
Bem, por motivos óbvios, não escreverei outro post até o final do ano. Apesar de tudo o que disse, tenham um Feliz 2009. Seria interessante incluir, entre os votos de Ano Novo, o de recusar convites para ir ao Baile da Ilha Fiscal. Conta-se que esse baile foi o último patrocinado por Dom Pedro II. Enquanto ele e a corte, lá dentro, festejavam, lá fora os militares preparavam o golpe para tira-lo do trono. Como diz o evangelista: "orai e vigiai".
A súmula do jornal relata que nesse filme a enfermeira Anna é testemunha de um crime, no qual integrantes da máfia russa...