Como vocês já devem estar mortos de saber, entre o início de fevereiro e o início de março, acontece uma coisa no Brasil, que é chamada de Carnaval. Pela divulgação que é feita através de fotos, artigos em revistas especializadas ou não, vocês devem pensar que o país vira um puteiro, durante os três dias dedicados a Momo. Isso não corresponde à verdade. Tá certo, em qualquer ajuntamento de humanos, sempre houve e haverá alguém se esfregando em alguém. Sendo assim, no Carnaval, o esfrega-esfrega reinante não é muito diferente daqueles que acontecem em qualquer festa popular neste mundo. Também, as pessoas não saem correndo de casa, completamente nuas, pra cair na gandaia. Há um pouco de exagero nisso, se bem que há pessoas que conseguem prodígios, tal como, transformar a gravata do pai numa fantasia de gala. Claro que não usamos muita roupa - afinal, o Carnaval cai em pleno verão, que este ano está sendo terrível,. Dessa maneira, não dá para enfrentar um calor de quarenta graus ou mais, usando fantasias como aquelas usadas no carnaval de Veneza, por exemplo Fazer isso, seria candidatar-se a ver Jesus antes da hora.
Até os meus 30, 35 anos, o carnaval no Brasil, era uma festa mais popular, as pessoas brincavam nos salões ou em blocos, nas ruas. Fantasiavam-se, dançavam feito loucas, pelo simples prazer de brincar, de se divertir. Essa coisa de escola de samba já existia, só que não tinha essa dimensão comercial e gigantesca que tem hoje. Era uma coisa mais simples, mais dos cariocas mesmo, era o jeito deles brincarem o carnaval. Nas cidades pequenas, do interior, o tríduo de Momo era assim comemorado: carnaval de salão no domingo, segunda e terça Nos bailes de clubes e salões, cantavam-se as famosas marchinhas ("ó jardineira, porque estas tão triste", "você pensa que cachaça é agua", etc). Na terça-feira gorda, íamos pro centro da cidade, ver o desfile de carros alegóricos , fantasias e blocos, quando havia. Aliás, não sei porquê se diz terça-feira gorda. Todo o mundo pulava feito maluco, na quarta-feira, as pessoas estavam esqueléticas. O que era muito gostoso, é que no Carnaval havia uma espécie de trégua em relação aos costumes - quer dizer, você podia aprontar, fazer uma arte - tudo era levado na esportiva, ninguém se ofendia, pois afinal, era Carnaval. Claro, você não iria sair fantasiado pelas ruas, dando facadas nas pessoas, só porque era Carnaval. Havia limites para a transgressão.Então, todo o mundo aproveitava. Era um tal de sair às ruas jogando lança-perfume, sangue-de-diabo, serpentina, confete nas pessoas, principalmente, mulheres e crianças. Uns, mais atrevidinhos davam sustos em amigos e conhecidos, enfim, era uma arrelia só, nas ruas e nos salões. Parece que esse hábito, foi presente de nossos colonizadores portugueses, que, no Brasil, introduziram uma festa deles, chamada de Entrudo. Só que no tal do Entrudo, a barra era mais pesada - jogavam ovos podres, água suja, etc. Quando chegava a quarta-feira, a folia acabava, todo o mundo ia para a igreja tomar cinzas e entrar no período duro da Quaresma.
Chegaram os anos 1970 e com eles, a mudança. As grandes gravadoras nacionais e estrangeiras, viram no carnaval do Rio de Janeiro, uma oportunidade de lucrar e muito. E começaram a investir no carnaval carioca, cada vez. Após alguns anos de pesados investimentos, o resultado é esse - o carnaval do Rio de Janeiro, aquele que é formado pelo desfile das escolas de samba, se impôs como padrão para uma boa parte do país. A maioria das cidades grandes ou medias tem o seu desfile de escolas de samba, à la Rio de Janeiro.O carnaval dos clubes, dos salões, das marchinhas ainda resiste, se bem que,coitadinho, está tão fragilizado. Contudo, resiste bravamente, isso é o que importa.
Bem, eu fiz essa longa introdução, esse imenso lero-lero pelo seguinte: fala-se muito do carnaval, de seus lucros, de seu luxo. Contudo, eu e minhas amigas Vera Coral e Naja Maria, gostaríamos de saber outras coisinhas sobre o carnaval, coisinhas essas que ninguém comenta. Dessa forma, considerando-se o carnaval do país inteiro, gostaríamos de saber, por exemplo:
- a quantidade de camisinhas (preservativos) utilizadas pelos foliões.
- o quê poderia ser feito com a quantidade de líquidos emitidos em forma de xixi, cuspidas, suor e vômito (eco), por todos os foliões. Seria possível encher metade da Baia de Guanabara?
- qual a área atingida pela quantidade de fotos de peitos e bundas femininas, que os repórteres que cobrem o evento, costumam clicar.
- qual é a quilometragem atingida por todos os foliões das escolas de samba e dos bailes de clubes e salões. Se somada a distância que cada um percorre a noite toda, na brincadeira, daria pra ir da Terra a Marte, por exemplo.?
- quantidade de crianças que se perdem no meio do ziriguidum (desfile das escolas, bailes nos clubes e salões)
- qual seria o resultado da soma de idade de cada uma das componentes da Ala das Baianas, de todas as escolas de samba,
- finalmente, o que quer dizer "pega no ganzê, pega no ganzá"?
Nesse ano, por estar fora de meu habitat, não pude dar a costumeira e prolongada espiada nos desfiles das escolas de s...
Senhor, Senhora Turista: até mais ou menos domingo da semana vindoura, esse país vai se transformar numa folia só, de ...