Neste junho, comemoramos os cem anos da imigração japonesa. Há cem anos atrás, aportava em Santos, o Kasato Maru, trazendo a primeira leva de imigrantes, vinda do país do Sol Nascente. Depois dele, muitos outros "kasatos" deve ter havido, trazendo em cada um deles,aquelas pessoas misteriosas, de olhos puxados, cabelos negros, lisos, completamente lisos.
Fico pensando nas ínúmeras razões que apontaram nosso país, como um caminho viável para essa gente. Pobreza, superpopulação, desejo de aventuras - as razões podem ser tantas, quantos foram aqueles que naquela por aqui chegaram. Seja como for - sem essas razões, eu não teria conhecido a Elisa, a Aurora, o Kazuo, o Jorge, o Yutaka, a Shiguemi, a Satiko, aYoko, a Rosa, a dona Joana, a Teresa, a Clarice, o Roberto, o Kazuia, a Fumiko, a Leiko, o seu Koga, oseu Nissighima, a Dayse, a Glória, o Sérgio, o Luiz e tantas outras pessoas legais, de olhos puxadinhos, que ao longo desses anos passaram pelo meu caminho.
Sem essas razões, eu não teria aprendido o significado de gorran, bacataré, bendiô, obassan, issan, ofurô, missô. Sem essas razões, eu não saberia que a morte pode ser uma ocasião para dançar, usando roupas coloridas, muito coloridas, ao som de uma música estranha, embalando palavras que mais pareciam de uma outra galáxia. Também não teria conhecido e gostado daqueles docinhos de feijão, que eu e mais um bando de meninos roubávamos dos túmulos, logo após o entêrro de uma daquelas pessoas.
Sem essas razões, não sei como seria minha vida. Porém, tenho a certeza de que seria uma vida menos rica, mais rígida, menos diversificada. Que bom que aquelas pessoas vieram, que bom que aqui permaneceram. Que bom que estamos construíndo nossa casa, nosso país. A todos vocês, pessoas de olhos puxadinhos, cabelos negros e lisos, muito lisos, o nosso mais profundo arigatô.
Pelas campinas sem fim Voam gentis borboletas Com suas asas sutis Verdes, vermelhas e pretas Oh, quem me dera se...