Sinceramente, não sei como os administradores deste blog não cassaram minhas palavras, acesso, inscrição seja lá o que for essa permissão para registrar idéias, pensamentos neste espaço virtual. Nesses últimos anos, postei pouquissimas vezes, umas tres vezes, no máximo.Se este espaço tem algum valor que se traduza em alguma moeda, suponho que eu esteja causando prejuizos a este blog. Seja como for, agradeço a generosidade com a qual tem-me tratado. Prometo que, assim que passar desta para melhor, rogar ao criador de tudo, que tudo faça para que o sucesso seja a marca registrada dos Blog. do Sapo.
Bem, vamos ao que interessa: há tempos que meu espírito é tomado por uma certa melancolia, irritação quando o calendário aponta para o mês de novembro e, essa irritação e melancolia aumentam a medida que o Natal vai se aproximando. Não sei, meus pais já faleceram há muitos anos, moro longe da família além de não ter familia - amigos ainda não são considerados uma família. Este espaço era preenchido por alegres natais passados em casas de vários amigos. Dessa época, ficaram doces recordações, que agora só aumentam essa sensação de melancolia, por saber que esses natais não voltam mais.
Lembro-me dos natais de minha infância. Éramos pobres, morávamos numa cidade pequena, no interior de São Paulo, um pequeno ponto no mapa do estado. Minha tia, irmã de minha mãe, já viúva vinha com meus primos passar as férias de verão. Chegava dez ou quinze dias antes do natal e voltava sempre depois do carnaval. Para quem ainda não sabe, o natal no Brasil, acontece no verão. Dias mais longos e ensolarados, calor, noites quentes, muita gente nas ruas essa é a tônica do verão. Nos meus tempos de criança, a Missa do Galo, começava pontualmente à meia noite. Íamos todos: meu pais, minha tia com meus primos, eu e meus irmãos. A igreja toda enfeitada, o presepio já pronto, o cheiro de incenso, o canto do coro tudo isso permanece na minha memória, servindo como comparação, referência dos natais de agora. Terminada a missa, voltavamos para casa e as pessoas voltavam para seus lares. Aos poucos, a cidade mergulhava no silêncio, quebrado aqui e ali, pela alegria de um brinde ou pelo estrondo de algum rojão. Naqueles dias, no natal, soltavam-se rojões, num gesto de alegria pelo nascimento de Jesus.
Chegando em casa, a mesa era posta e comíamos alguma coisa. Como não tínhamos grana suficiente para fazer a ceia, comíamos o que era possível comer. Minha mãe, com sua prestimosidade, já tinha feito sua maravilhosa rosca doce, recheada com uvas passa ou frutas cristalizadas. Um café era passado e então, tomavamos café com fatias da rosca. Depois, ficavamos algum tempo conversando sobre os mistérios do nascimento, a estória dos reis magos, os pastores, a missa, o presepio da igreja. Não ganhavamos presentes, nem eu que era o aniversariante do dia. Iamos dormir, não sem antes ficar alguns minutos rezando em silêncio, junto ao presepio.No dia 25, alguns amigos da familia iam-nos visitar e assim terminava o dia. E, a vida prosseguia - vinha o Ano Novo, passava o Ano Novo, depois vinha o Carnaval, terminavam as férias, começavam as aulas. Isso de nada importava - era verão, eramos crianças, fazia calor, tempo de comer pamonha, chupar melancia, tomar sorvete e principalmente brincar, brincar, brincar.
O que mais me revolta é que desse espírito de confraternização e solidariedade, de acolhimento e generosidade, quase nada restou. O Natal, assim como o dia das Mães, dos Namorados, das Crianças foram sequestrados pela sociedade de consumo. As empresas organizam festas de confraternização, as cidades mais ricas enfeitam suas ruas e prédios. No trabalho e nas famílias trocam-se presentes através do Amigo Secreto,uma desculpa esfarrapada para dizer que fizemos nossa obrigação para os que nos são proximos. Pessoas enfrentam filas quilometricas, passam horas e horas enfiadas em lojas, magazines, shoppings irritando-se umas com as outras, suando em bicas, pois com o calor que faz nessa epoca, não existe ar condicionado que de conta. Tudo isso para "comemorar" o Natal, melhor dizendo, para cumprir sua obrigação ao deus Mercado.Ouse desafiá-lo e não comprar seu presente de Natal para quem deve - pagará por isso até o Natal seguinte.
Tudo isso, toda essa agitação, essa falsa comemoração e solidariedade, essa tecnologia que faz dos presentes de hoje, verdadeiros milagres, tudo isso, não vale um segundo siquer dos natais que já desfrutei. E nada disso, nada dessa correria, preocupação, dessa tecnologia consegue preencher um minusculo ponto no vazio que sinto nos natais de hoje. Cada vez mais, a cada dia que passa sinto que precisamos, urgentemente, livrar-nos dessas algemas que nos amarram a valores determinados pelo Ter, Consumir,Comandar. Antes que seja tarde demais, precisamos da prática saudavel da Simplicidade, da Generosidade e da Solidariedade.
Há mais de 90 dias, um de nossos colegas de trabalho está afastado.É um rapaz de uns vinte e poucos anos, mei...