Nesses últimos anos minha noção de tempo está sensivelmente mudada. Fatos que aconteceram pela manhã, são recordados como se tivessem ocorrido no dia anterior, ou, na semana passada. E o que é mais estranho, quando esses fatos são rememorados tempos depois, a impressão é de que aconteceram há meia hora atrás. Parece que o tempo estica e encolhe como se fosse uma sanfona.
Antigamente, as informações demoravam a chegar até nós. Uma carta de um parente distante, uma notícia importante, um cartão postal que enviávamos chegavam a seu destino dias depois. A roda do tempo era mais lenta, o que criava um espaço onde podíamos analisar, refletir sobre as informações que chegavam até nós. Hoje, ao mesmo que tempo ficamos sabendo dos buracos da cidade, de quebra ainda somos informados sobre um furacão em uma ilha qualquer da Indonésia, de um atentado no Iraque, um terremoto na Turquia, a queda da bolsa de Londres, uma socialite famosa que ficou pelada em Los Angeles, uma chacina na Somália, inundação na Austrália e vai por aí.
E com tudo chegando ao mesmo tempo, lá se vai o espaço para reflexão e o que fica é um espaço vazio, preenchido por informações sem vida, sem crítica. Tenho a impressão de que essa solidão de que tanta gente se queixa, nada mais é que a consequência desse espaço cheio de bobagens, de coisas inúteis que são essa avalanche de informações que nos atingem. O nosso espaço reflexivo desapareceu e com ele, nossa análise, nossa crítica e nossa capacidade de intervir esentir-se como ser vivente e atuante.
Mudando de assunto, ontem fui ver "Simplesmente Feliz". Filme inglês do mesmo diretor de "Segredos e Mentiras", lembram? Aquele filme sobre uma mulher já cinquentona, que um dia abre a porta da sala e dá de cara com uma mocinha negra, fruto de sua vida de hiponga tresloucada. Em Simplesmente Feliz, Pauline é uma professora primária de uma escola de Londres, Uma pessoa de um otimismo à toda prova, sempre procurando e achando o lado menos negro da vida. Se você vir o filme e não rir nas sequências das aulas de direção, de dança flamenca e da cama elástica é porque você certamente está numa bad daquelas, meu caro, minha cara. Fiquei com a sensação de que Pauline vive o momento, se apropria de seu tempo e faz dele o uso que bem entende. Seria isso, um dos pilares da felicidade?
Seja como for vale a pena ser visto. Já repararam que é muito raro um filme tratando de pessoas comuns e felizes? Será que é porque, como diz uma frase atribuída a Leon Tolstoy, todas as felicidades são semelhantes, mas cada infortúnio tem seu aspecto particular?
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